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sábado, 27 de dezembro de 2014

Pègada do Anjo






Há um inimigo, que é meu Amigo,

No centro da Guerra que arde em redor.

Não posso cuidar dum Amigo em perigo,

Se eu o pressinto ou sinto temor.



Além das Bandeiras que, ambos, trocamos

Existem Deveres de um Juramento.

Há olhos que veem o quanto choramos,

A perda de Amigos, dor e sofrimento...



Quedei-me da Vida e decidi morrer.

Parti, consciente de não mais voltar;

Saiu-me, por sorte, quem me viu chorar.



Acorda-me, o instinto de sobreviver,

Ao ver a pègada do Anjo invisível,

Que foi meu Amigo, no momento incrível.



Santos Oliveira

Ilha do Cômo/Guiné
31DEZ64




                   ...Foi há 50 anos!...

Cachil-Ilha do Cômo- Finais de Dez64

Tinha acabado de receber notícias trágicas acerca da morte dos meus dois amigos de infância. Isolava-me e chorava e este sentimento de perda prolongou-se  por alguns dias. O poiso escolhido era o topo da paliçada, onde fingia fazer a vigilância habitual, embora perfeitamente exposto. Apetecia-me morrer. Foi terrível.  A minha vida morreu; morreram os meus amigos (Santos Oliveira)
Assim, pelos últimos dias do Ano (1964), tomei a G3 (Arma automática, de Serviço), umas quantas Granadas, coloquei  a minha Boina Preta, Cinto e Lenço Ranger (seda azul) e informei os meus militares de que iria dar uma espreitadela pela orla da Mata, pelo que entregava o Comando, ao Cabo Gomes (1916/63) com a informação exacta de fazer fogo como estava prèviamente estabelecido. Não havia mas, nem meios mas. Era uma Ordem.
Um dos Soldados, o Júlio Batata (2032/63) perguntou se também podia ir. Anuí, mas informei que íamos por nossa conta e risco; outros mais se prestaram a acompanhar-me mas recusei  com o argumento de ser necessário guarnecer os Morteiros de gente, que eles não se disparavam sozinhos, etc. mas acabei por aceitar um outro que, no momento, não recordo quem (posso indagar depois).
Informamos o Plantão da Companhia residente (creio ter sido a CCaç.728) do que íamos fazer e lá partimos, com as precauções necessárias.
Chegados próximo da Orla da Mata, encontramos um carreiro de formigas com mais de um palmo de largo, a tentar refazer o seu percurso em grande afã, mas numa estranha confusão. Percebia-se, por baixo daquele caos, a marca duma pegada, de pé descalço, que havia despoletado tal evento. Foi, de imediato, assumido o regresso, pois as evidências eram demasiado esclarecedoras que estava alguém, uns passos  à nossa frente.
Chegados, constatei que havia perdido o meu querido Lenço. No amanhã se veria o que fazer.
Ao raiar do dia, os mesmos, retornamos, tomando mais cautelas, procuramos os pontos onde nos havíamos agachado ou rastejado e encontramos o meu Lenço com uma folha de Caderno onde se lia (em Português correcto): ”TENHO-TE VISTO CHORAR”. 
Fiquei paralisado por instantes. Voltei o papel e escrevi: ”OFEREÇO-TE O MEU LENÇO”.                                                                                        
Custou-me imenso descansar aquela noite tal a ansiedade que de mim se apoderou. Tinha a infantil curiosidade de tentar adivinhar o que se passava, pois era incompreensível. Por outro lado já havia tomado consciência do risco desnecessário que havia corrido e fizera os meus Soldados correr. Era uma lotaria, um jogo… e o jogo vicia.
A curiosidade matou o rato, diz o ditado. Eu estava por tudo. Queria saber se o lenço tinha sido levantado.
Recusei, sem resultados, a companhia dos Soldados. Bem mais à vontade (um erro que podia ter sido fatal) dirigimo-nos ao local.
Estava um daqueles pingalins, ou chicotes, muito elaborado, com uma mancha de sangue no punho e um novo papel que dizia: ”EU QUERIA, ERA, UMA BANDEIRA TUA”.
Atónito e já muito inquieto, voltei o papel e escrevi: ”VOU VER O QUE POSSO FAZER”. Regressamos muito mais apressados que o habitual. Era necessário ter os acontecimentos sob controlo porque doutro modo iria sobrar coisa grossa.
Os restantes elementos do P.Mort.912, começaram a questionar o que íamos fazer todos os dias. Começou a ser difícil segurar o segredo. Que íamos ver se havia qualquer possibilidade de haver caça, dizíamos.
Na mala tinha uma bandeira de Portugal, tipo galhardete, das que se usavam, na época, nos vidros dos automóveis. Fui buscá-la, lembro bem tê-la apertado no peito e lá retornamos, com a promessa que seria a última vez que sairíamos, se não se encontrassem indícios de caça. Lá chegados, encontrei um Galhardete e um Crachá do PAIGC e um papel que dizia: “GUARDA E LEVA ESTA PARA A TUA TERRA”. Petrifiquei. Acho que fiquei imóvel tempo demais porque os Soldados me perguntavam: ”O QUE SE PASSA, MEU FURRIEL?”. Rapidamente, retirei a Nossa Bandeira, Coloquei-a na estaca, escrevi por trás do papel: ”EM NOME DA PAZ”. Fiz Continência e todos desatamos em corrida mais ou menos desordenada para o Quartel.
Tudo se ficou por segredo solene até ao dia de hoje em que falei com O Soldado Júlio Batata que concordou fosse contada esta História.
O Galhardete e o Crachá sempre ficaram e estão comigo.

Do meu Companheiro de Armas do Campo oposto, a quem nunca vi o rosto, nunca tive notícias. Se lhe chegar esta mensagem, ele reconhecerá a História que ajudou a construir, recebê-lo-ei de braços abertos.
O Pulsar do coração e adrenalina, não serão mais as mesmas, mas o sentimento, esse, é sempre igual.
Santos Oliveira
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e




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sábado, 20 de dezembro de 2014

Como um Inverno





Não, á solidão!
Não, á tristeza!
Não, ao ser-se só!
Não, ao caminhar sem ter destino!
Amar sozinho,
Nem dá a ilusão de ter caminho...

E, a meu contento
E dos meus olhos,
Busco a presença que eu adoro
E me deleita o pensamento
Na esfinge real, no monumento,
Que eu choro.

O que haja mais belo e modelado
(Fosse escultor e não poeta)
Não saberia achar, na perfeição...
Tanta formusura,
Tanta mão segura,
Como risco nestas linhas,
Uma estátua viva.

Adivinhas?
Ser: da Alma, o dedo e a doçura;
Do Amor, o sol que não se põe;
De mim, poeta, inspiração
Do dia que é eterno,
Como se fora um Inverno.




SOL da Esteva

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sábado, 13 de dezembro de 2014

Te Sigo







Sofri e sofro,
Sentindo a humilhação...
Desejo a sintas, também,
Do meu todo, de verdade,
Que não seja apenas tua;
Não a evoques pela rua,
Nem a reveles de ti...

Fazes sofrer,
Atirando para fora
Tudo quanto não vivi
Seja de Amor ou querer.

Amor,
É feito doçura
E tudo revela,
No seu juízo ou loucura,
Ao amado, outro Ser,
Sem qualquer retribuição.
Amor,
É sofrimento e alento,
Doação pela paixão...
Amor,
É, tão só, querer sentir,
A um tempo,
O bater do coração.

Depois,
Assim,
Os egoísmos
De manter
O escravo da paixão,
Que se alimenta dum sonho...

Afasta-me e despreza-me!
Te tenho submissão
E te sigo
Sem segurar tua mão.



SOL da Esteva

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sábado, 6 de dezembro de 2014

Por sonho






Quero-te, sempre,
Como no primeiro dia,
O dia do nascimento,
Que foi a minha ilusão.
Não soube ter-te, guardada,
No êxtase de adoração.

Perdi (para meu tormento)
A casa do coração...
Mas continuarei a amar-te
Com a mesma devoção.

Disse-te do meu Amor
E soubeste compreender.
Deste-me do teu calor
Nos sentires que revelaste,
Na doação que selaste
Com um beijo (sei) de Amor.

Depois,
O juramento
Numa mútua vontade
Livremente aceite e dita...

Agora,
Sinto-me só, no meu casulo,
De Alma despida...
Por companhia: a dor,
A solidão e silêncio.
Por sonho, ficou-me a Vida.


SOL da Esteva

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