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sábado, 24 de novembro de 2012

Por um beijo








Dia de Novembro, dia triste...
Dia de coragem, decisivo...
Dia de angústia, de perigo
Na realidade que persiste.

Sei que acontece tanto Amor,
Sempre conhecido de mais um...
Sofro eu, por ti, como nenhum,
Por ser mesmo esse o meu Senhor.

Tenho, na garganta, um nó dobrado,
Nó que me aperta o coração
De saber teu peito retalhado.

Porque irá pesar a minha acção,
De que apenas eu sou o culpado
Por um beijo: eterna gratidão...

 




SOL da Esteva

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sábado, 17 de novembro de 2012

A Pátria sou eu, és tu...






                       ...Foi há 48 anos!...



"[...]os bravos de um Pelotão de Morteiros, o 912, que nunca existiu..."


"[...]
A 16 de Novembro de 1964, avistei dois charutos estampados no escuro do céu, de forma difusa, que aparentavam dois cigarros acesos atirados ao ar, desde o fundo do aquartelamento. A recriação, mais ou menos fiel dos Fortes de defesa contra os Índios, em que a paliçada era construída de troncos de Palmeira, que, como se sabe, são moles e duram cerca de três meses; aquelas tinham mais que isso. Portanto, eram apenas uma defesa psicológica.

Acordei. A Rádio Portugal Livre (*) havia sido extremamente suave e comedida no seu estilo linguístico.
-Fogo! Rápido!

Os objectivos estavam todos (todos, mesmo) planeados, para obstar a continuação do fogo de Morteiro. E assim foi. Mas o caso era muito mais sério, porque deslocaram para a orla da mata muitas metralhadoras pesadas (incluindo quádruplas, destinadas a tiro antiaéreo) que nos fizeram lembrar que o pior estava para vir. A densidade de fogo era tamanha que a iluminação e as antenas do Posto de Transmissões foram destruídas. Chegaram a ter metralhadoras pesadas no perímetro interior do arame farpado (havia duas barreiras aos 30 e 60 metros).

Bem, chuva miudinha, molha tola, e as calças do camuflado completamente secas. Demos o nosso melhor, fazendo tiro, a olho, para os locais em que as pesadas cantavam e chegamos até ao incrível (perigoso e inseguro, embora tivesse a consciência disso) de fazer fogo para as pesadas, dentro do perímetro de segurança. Tínhamos os Morteiros sobreaquecidos, alaranjados…

O inesperado aconteceu. Uma granada não percutiu. Tirei o blusão do camuflado e fui afastado pelo cabo e dois soldados que me pediram para continuar com os outros dois Morteiros. A munição foi retirada com sucesso; no entanto, por precaução, colocamos a arma fora de serviço. Quando arrefecesse, logo se veria.

Foram 216 granadas, durante as duas e horas e vinte que durou o ataque. Depois, de repente, o silêncio expectante e caricato da noite africana.

Apenas nos restavam munições para, naquele ritmo de fogo, mais cerca de 15 minutos. Se não fora a batota calculada... Aguardámos algum tempo e tentámos, mais vigilantes pela falha na iluminação exterior, retomar o nosso ritmo normal no meio dum escuro e sepulcral silêncio.

Voltamos ao Noticiário da Rádio Portugal Livre (*), que estava prestes a começar. Uma gargalhada geral ecoou por aquelas bandas. Não é que o ilustre locutor (**) nosso conhecido, acabara de declamar: ”A Ilha do Como acaba de ser libertada. As tropas colonialistas foram completamente derrotadas. Não há sobreviventes.”
- Então, eu estou morto!
"[...]"

 
(*) Rádio Voz da Liberdade
(**) Manuel Alegre


 Para ler todo o Relato, p.f.colar e seguir o Link



(em LIVRO PDF, extraível)
http://ultramar.terraweb.biz/Livros/SantosOliveira/PelMort912_upd3.pdfhttp://ultramar.terraweb.biz/Livros/SantosOliveira/PelMort912_upd3.pdf  
 
Ou,  

http://carlosilva-guine.com/index.php?option=com_content&view=article&id=75&showall=1

 

 

A Pátria, sou eu, és tu...




Me envergonha a vaidade            
E me orgulho, poder tê-la.
Esta, a Noite da Verdade,               
A minha dualidade                      
Salvou, em vez de perdê-la,
(A Vida) na minha idade…             

Valente, gente, valeu
O que vale aos vinte e três…
Infantes, melhores do que eu,
Que nesta noite de breu
Tanto porfiou e fez
Que a minh’alma cresceu…

Aqui, na ilha do Cômo
De mata densa e fechada,
E lama, e moscas, e nada...
O Quartel é um assomo
De uma frágil paliçada.

As Armas quase fundiam
De tanto fogo lançar.
Portaram-se como deviam;
Agora, vão descansar.

E eu, terei de esconder
A verdade da façanha,
Pois me houve alguma manha
Em guardar as munições
Para tais ocasiões...

Com a Lei em trinta e seis,
(Um valor pouco seguro
Para defesa no escuro)
Duzentas e dezasseis
Partiram p’la Boca fora
E mandaram tudo embora…

Destroçados, acabrunhados,
Depois de muitos minutos,
(Quase na terceira hora)
Mais molhados que enxutos,
Partiram sem um lamento
Deixando, por testamento,
Não haverem mais Soldados,
No local onde me sento.

Morto não sou, porque vivo
E isto escrevo e digo!

As traições a camaradas
Não se apagam nem esquecem
Por mais ou menos palavras
Ou actos que imerecem.

A Pátria, sou eu, és tu
E não qualquer Belzebu.


Santos Oliveira

Ilha do Cômo/Guiné
17NOV64

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sábado, 10 de novembro de 2012

Livre pensamento







Sinto-me impotente  ao te ver
Em dores, doente e inactiva;
Sei que te reforça a Fé viva
Mas que não apaga o teu sofrer.

E, o pensamento livre e só,
Corre como as horas: tic, tac...
Fica-te o vazio em destaque
Nessa solidão que não tem dó.

Dura é a vida que nos cerca
Não nos permitindo tanto alento
Como a companhia, num momento,

Do que nós amamos; mas desperta
O íntimo e livre pensamento,
Único valor além do Tempo.


 



SOL da Esteva

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sábado, 3 de novembro de 2012

O meu tormento









Tive uma visão que me esfarrapa,
Porque amo tanto e tanto quero.
Mas, se alguma vez eu desespero
É porque o querer-te não me mata.

Salvo a voz do peito, eu só finjo
Ter a alegria que não tenho.
E a todo o mundo, eu desdenho
Querendo ferir, mas não o atinjo.

Se houvesse Céu, aqui na Terra!...
Quem dera! Talvez houvesse vaga
Para o sofrimento desta chaga.

Mas não! Gozo, só o Céu o encerra
No estado de não sofrimento,
Onde não se insere o meu tormento.





 



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